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Ronaldo Coelho

Professora Rita Leal Paixão profere discurso

Professora profere discurso sobre história do país e da UFF durante cerimônia de abertura do Jubileu de Ouro
21/12/2009

Durante cerimônia de apresentação das festividades do Jubileu de Ouro da UFF em 2010, no dia 18 de dezembro, a professora Rita Leal Paixão proferiu discurso em que traça um histórico do país desde 1960, em paralelo à história da criação da Universidade Federal Fluminense. O discurso teve a colaboração da aluna Tainá Soares Teixeira e da professora e ex-vice-reitora da UFF, Aidyl de Carvalho Preis.

“Iniciamos as comemorações do aniversário da Universidade Federal Fluminense. É o Jubileu de Ouro. Cinquenta anos de existência! Queremos comemorar! A universidade está viva! Hoje, quando o sol se puser, teremos luzes, teremos música no jardim da Reitoria. Comemorar é festejar, é rememorar, trazer à memória, é renovar, é, portanto, reviver, no jardim da Reitoria, o jardim de Akademos. Nos arredores de Atenas, Grécia Antiga, o jardim de Akademos era um bosque de oliveiras, adquirido por Platão, que ali fundou, em 387 a.C., a Academia.

A primeira Academia, uma escola diferente das demais, reunia atividades didáticas e especulações filosóficas, afinal, o importante era a busca da verdade. Não por acaso, a Academia surgiu num jardim. Ali, entre os vegetais, era vida, vida que se autorregenera...era o contraste com a pedra da cidade e as suas ruínas. O jardim de Akademos não era a cidade, não era o bosque, estava entre a arte e a natureza bruta. No jardim de Akademos, nessa Academia, não nasceu o saber da humanidade, porém ali nascia a preciosa concepção do conhecimento como algo vivo e mutável, o saber vivo.

Preferimos acreditar, como Norbert Elias, que o saber não tem um começo na história da humanidade. O nosso saber resulta de um longo processo. Todo indivíduo, por maior que seja sua contribuição criadora, constrói a partir de um patrimônio de saber já adquirido, o qual ele contribui para aumentar. Somos hoje aqui, agora, herdeiros deste saber, mas somos também, geradores da vida deste saber. Fomos conduzidos até aqui e precisamos conduzir. É, portanto, neste momento que chamamos ao palco, para reconhecer e homenagear aqueles que conduzem a nossa universidade, aqueles que representam a todos nós em tantos jardins: nosso Magnífico Reitor Roberto de Souza Salles e vice-reitor Emmanuel Paiva de Andrade, sob a música dos nossos aplausos.

A Academia platônica foi encerrada em 529 d.C. por ordem do poder político. Era vista como um ponto de resistência à política de uniformização cristã do império. A questão que prossegue é: a Academia não se encerrou no ano 529 d.C. Uma vez plantada no jardim, a Academia, assim como seres que se autorregeneram, produziram raízes, sementes das árvores novas, das outras academias, das academias novas universidades. E, assim, um dia surgiu uma nova universidade no Estado do Rio de Janeiro.

Em 1946, registra-se a intenção na Associação de Professores Católicos, mas foi em 1960, há 50 anos, que foi criada, sob o nome de Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uferj). A Uferj originou-se da incorporação de cinco faculdades federais já existentes em Niterói (Direito, Medicina, Odontologia, Farmácia e Veterinária) , três escolas estaduais ( Engenharia, Serviço Social e Enfermagem) e agregação de duas faculdades particulares (Filosofia e Ciências Econômicas), posteriormente federalizadas e incorporadas, ganhando o nome atual, Universidade Federal Fluminense, em 1965. A agregação, transformação, se por um lado revela o que foi preciso deixar de ser, por outro lado anuncia a imortalidade, como a semente no jardim que morre para originar o broto. É neste momento que temos o privilégio de chamar ao palco, para reconhecer e homenagear a todos aqueles que vivenciaram esse brotamento, a professora que vivenciou esse período, professora Aidyl de Carvalho Preis, memória viva e querida da nossa universidade, ex-vice-reitora.

É sempre bom lembrar que a Academia platônica é uma “academia espontânea”. Surgiu da vontade do poder civil e não do poder político, que ao contrário, tentou destruí-la. A UFF nasceu nos anos 1960, e a década de 60 foi marcada por efervescência no campo político-social do país, sofreu intervenções, veio a Reforma Universitária, o fim das cátedras , criação dos centros e departamentos. Tempos difíceis, tempos de repressão política, mas também de avanços científico no mundo. A capacidade médica de salvar vidas humanas superava todas as décadas anteriores, os direitos civis iniciavam com força suas conquistas nos EUA, o mundo ficava menor com os satélites melhores, as imagens da TV invadiam os lares e o som do rádio portátil era ouvido em qualquer canto. Assim, o mundo ouvia os Beatles e os estudantes no Brasil intensificavam o coro cantando: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E nosso poeta Drummomd perguntava: “E agora, José?”

É neste momento que chamamos ao palco o professor Cresus Vinícius Depes de Gouveia, formado em Odontologia em 1967 e que, desde então, sempre esteve nesta universidade, junto com tantos outros, em sua defesa, para receber nossa homenagem ao hino de aplausos.

Ainda nessa década, foi criada a Comissão Executiva de Pesquisa e Pós-Graduação (Compeg), um marco na implementação de incentivos à pesquisa. E é para reconhecer e prestar uma homenagem que chamamos ao palco a professora Ismênia de Lima Martins, que, junto com tantos outros, possibilitou o reconhecimento acadêmico da nossa universidade.

A importância que começava a ser dada à pesquisa refletia a necessidade de se buscar tempos melhores. Mas de onde virão ventos favoráveis? Sêneca dizia: “Nenhum vento lhe será favorável se não souberes a que porto se dirige”. É preciso reconhecer a força e a coragem daqueles que dirigem uma universidade. Vamos saudar os ex-reitores que dirigiram esta universidade na sua primeira década de vida: Prof. Durval de Almeida Baptista Pereira, Prof. Paulo Gomes da Silva, Prof. Dioclécio Dantas de Araújo, Prof. Raul Jobim Bittencourt, Prof. Argemiro de Oliveira, Prof. Manoel Barreto Netto, ao hino dos aplausos.

Iniciamos os anos 1970 e, com eles, assistimos a uma mudança no conceito de mundo. O homem já havia chegado à Lua, e o Movimento Verde questionava a ciência e a tecnologia e, com isso, todo o modo de vida desenvolvido desde a Revolução Industrial. Tornava-se necessário preservar a natureza. É, então, que a UFF se aproxima da maior floresta do mundo e cria um campus avançado no Pará (Polamazônia). Começa o desenvolvimento das atividades de extensão, um outro campus denominado Centro Rural Universitário e Ação Comunitária (Crutac–RJ) é criado em Bom Jesus de Itabapoana. É neste momento que temos a honra de chamar ao palco, como reconhecimento e homenagem, nossos ex-reitores, Prof. Jorge Emmanuel Ferreira Barbosa, e seu vice, Prof. Joaquim Cardoso Lemos, que em sua gestão realizaram esses importantes feitos.

Ainda na década de 1970 surgem os primeiros programas de pós-graduação, a comissão editorial – hoje Eduff, o surgimento do movimento dos Docentes – a Aduff, os primeiros processos de planejamento para o desenvolvimento institucional e a dinamização das atividades culturais da UFF. É, portanto, como um dos ex-reitores dessa época, que o Prof. Geraldo Sebastião Tavares Cardoso merece nosso reconhecimento e aplausos.

A marcante criação das pró-reitorias ocorreu em 1982, assim como o Plano Institucional de Capacitação Docente. É neste momento que chamamos nosso ex-reitor, o Prof. Rogério Benevento, para homenagear e reconhecer esse importante momento da sua gestão, sob o hino dos aplausos.

È preciso lembrar que, com os anos 1980, chegou o fantasma do aquecimento global, mas aqui, no Rio de Janeiro, os estudantes no Rock in Rio entoavam a canção: “Que a vida começasse agora, que o mundo fosse nosso outra vez, que a gente não parasse mais de cantar... de sonhar...”

A UFF sonhava, o financiamento do BID, surgiam as obras do campus universitário, intensificação de contatos e convênios com instituições acadêmicas de grande prestígio no exterior... É neste momento que chamamos ao palco nosso querido ex-reitor, Prof. José Raymundo Martins Romêo, como reconhecimento e homenagem por tantos feitos em seus dois mandatos, dentre eles, a fundação da Assessoria para Assuntos Internacionais.

Dizia ainda a canção que embalava o Rock in Rio: “Todos numa só direção, uma só voz, numa canção, todos num só coração, um céu de estrelas...” Íamos rumo ao céu de estrelas. Pepê, campeão mundial com seu vôo livre, a Seleção Canarinho com o quadrado mágico na copa de 1982, os estudantes caminhando nas ruas pelas Diretas Já em 1984 e Airton Sena com sua primeira vitória nas pistas em 1985. E foi exatamente em 1985 que o sonho maior da democratização da UFF se realizou: a sua primeira consulta universitária. Queremos reconhecer e homenagear nosso ex-reitor, primeiro reitor nomeado a partir da consulta universitária, Prof. Hildiberto Cavalcanti de Albuquerque Júnior, e seu vice, Prof. Aloysio Carlos Tortelly da Costa, os quais chamamos ao palco, sob o hino dos aplausos.

Em 1990 foi inaugurado o Campus do Gragoatá. Iniciava-se mais uma década, e o mundo tornava-se diferente: a Guerra Fria estava acabando, já não havia o Muro de Berlim. E também a UFF quis transpor muros: houve uma intensificação do processo de interiorização da universidade, uma implementação da ação social da UFF, disponibilizando ensino e pesquisa e ampliando seu papel não somente no cenário fluminense, mas no país e fora dele. É a universidade reconhecida pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. É neste momento que chamamos ao palco o ex-reitor, Prof. Manoel Pereira de Almeida, como representante desse momento, para receber nossa homenagem, ao hino dos aplausos.

Os anos 1990... Essa década está inegavelmente registrada em todos nós como o primeiro CD, o primeiro computador, o primeiro e-mail, a primeira ligação no celular, e todo o início de um mundo de navegação na internet. É neste momento que convidamos ao palco nosso querido ex-reitor, Prof. Luiz Pedro Antunes, e seu vice, Prof. Fabiano da Costa Carvalho, que, dentre seus feitos, encontra-se registrado todo o projeto de implantação da Rede Ótica da UFF. Recebam nossa homenagem, ao hino dos aplausos.

Chegamos ao século XXI. Começamos com momentos difíceis. De Nova York a Niterói, derrubam-se as torres por lá, medo por aqui, insegurança, poucas verbas, nossos prédios precisam de conservação, nossas salas estão pequenas, por outro lado, é bom ver que crescemos bastante, diversos cursos, empresas juniores, incubadoras de empresas, mas é preciso não parar, fazer planos... É neste momento que convidamos ao palco nosso ex-reitor, Prof. Cícero Mauro Fialho Rodrigues, representando a criação do Plano de Desenvolvimento Institucional, o nosso PDI. Receba nossa homenagem, ao hino dos aplausos.

Lembramos também o professor Antônio José dos Santos Peçanha, ex-vice-reitor desta casa, que nos deixou neste ano. Para ele, nossa homenagem, ao som das palmas.

Agora é tempo de Reuni. Estamos inseridos no Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, porque acreditamos, porque podemos e queremos ir além. Precisamos saudar, ao hino das palmas, nossos dirigentes atuais que lutaram e defenderam a implantação do Reuni na UFF.

Vale a pena lembrar que o jardim de Akademos, sobre o qual falávamos, estava nos arredores da pólis. Ele exige, portanto, de quem o freqüenta, um esforço – o de se deslocar até lá, não esperando que alguém o traga pelas mãos. E é por isso que reconhecemos e homenageamos o esforço de todos, que ao longo desses anos vieram para o jardim da UFF. É neste momento que convidamos ao palco o Decano do Conselho Universitário da UFF, Prof. Heitor Luiz Soares de Moura, sob o hino dos aplausos.

Convidamos também ao palco a Profa. Leda Regina de Barros Silva, diretora do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional de Campos, para representar todos os nossos docentes que mantêm vivo o saber. Convidamos também a recém-empossada Profa. Luciane Fragel Madeira, do Instituto de Biologia, para simbolizar o quadro docente que se renova com o Reuni. Convidamos a Profa. Eurides Lavoyer Escudeiro, representando os membros do Huap, nosso importante hospital universitário incorporado ainda na década de 1960.

Convidamos alguns representantes dos técnico-administrativos que garantem qualidade para o desenvolvimento dos trabalhos: a técnica Lúcia Ramalho Marchon, ex-aluna e subcoordenadora na Pró-Reitoria de Extensão desta casa, e Ângela Maria Alves, assessora em várias gestões e subcoordenadora da Escola de Extensão. Convidamos também a técnica Érika Hilda Wilkomm de Farias, por tantos anos de dedicação ao Gabinete, que também colaborou na captação desses dados históricos. Convidamos também o técnico João Baptista Pimentel, motorista já aposentado, e o radialista e técnico Zeferino Lamarão, o primeiro servidor emérito desta universidade.

Convidamos também a formanda de Letras no ano do Jubileu de Ouro, Tainá Soares Teixeira, por sua destacada atuação na graduação e em pesquisas, como colaboradora na extensão da UFF, a quem eu agradeço publicamente pela imenso auxílio na reconstrução dos dados históricos da nossa universidade para que esse panorama fosse montado. Convidamos também o criador da linda identidade visual do Jubileu de Ouro, Felipe Rodrigues Ribeiro, que integra a equipe do Laboratório de Livre Criação, com a Profa. Rosa Benevento. Eles dois, estudantes hoje, representam os frutos das árvores do jardim. Queremos chamar ao palco também nossos pequenos alunos do Colégio Universitário Geraldo Reis e da Creche da UFF.

Afinal, hoje não é dia de recordar o tempo passado e celebrar o futuro? Não é dia de retornarmos ao jardim? Não devemos esquecer que somos como as oliveiras que se autorregeneram num jardim no meio da cidade. Parabéns, Universidade Federal Fluminense, pelo seu Jubileu de Ouro! E aproveitando um neologismo de Mia Couto, escritor moçambicano, vamos acreditar, vamos pedir a todas as forças deste mundo e de quaisquer outros, para que a nossa querida Universidade Federal Fluminense seja muito, muito ‘abensonhada’!

Muito obrigada.”

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