Aumento das DST: estudo conclui que nesse quesito Carnaval está inocente
23/1/2008

A pesquisa "As doenças sexualmente transmissíveis e o Carnaval - de 1993 a 2005", foi apresentada hoje, 23 de janeiro, em coletiva à imprensa. O estudo pioneiro do Setor de DST da UFF conclui que o Carnaval não influencia no aumento das doenças sexualmente transmissíveis (DST), afirmam os médicos Wilma Nancy Campos Arze e Mauro Romero Leal Passos.

--> Consulte o estudo na íntegra.

As doenças sexualmente transmissíveis estão entre as causas mais freqüentes de procura por serviços de saúde, principalmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que, a cada ano, surjam 4,4 milhões de novos casos.

Por serem consideradas, desde a Antigüidade, doenças relacionadas a promiscuidade, formou-se, no Brasil, um senso comum de que elas guardariam uma forte relação com o Carnaval, cujos festejos têm grande apelo sexual e que, portanto, representariam um risco maior para a população de contrair uma das DST. Isto explicaria o fato de as campanhas elaboradas pelo Ministério da Saúde começarem a ser veiculadas pela mídia uma semana antes do carnaval e terminarem logo após, o que tem sido uma constante desde que se iniciaram, em 1995.

Dos 11.092 pacientes atendidos de 1993 a 2005 no Setor de DST da UFF, considerado pelo Ministério da Saúde um centro de referência nacional, o estudo selecionou 2.646 prontuários, que correspondiam a pacientes atendidos pela primeira vez e que apresentavam sintomas de uma das três doenças sexualmente transmissíveis mais comuns e recorrentes, sífilis, gonorréia e tricomoníase.

Como as três têm períodos de incubação bem definidos, foi possível pesquisar se os picos de diagnóstico coincidiam com os picos esperados de manifestação clínica de cada uma das doenças, caso a contaminação tivesse ocorrido no carnaval.

Dos 13 anos estudados, o carnaval caiu no mês de fevereiro em 11 deles e, para nenhuma das três doenças, observou-se, nesse centro especializado, um maior número de casos em fevereiro/março/abril, meses imediatamente após o carnaval, incluindo os períodos respectivos de incubação.

Ao contrário, os meses de julho e agosto concentraram o maior número de casos de gonorréia e sífilis e junho e julho, de tricomoníase.

Relação entre carnaval e sexualidade pode ser um mito

Como complemento ao estudo, os pesquisadores investigaram ainda o número de partos e abortamentos na região metropolitana do Rio de Janeiro e no Brasil, de 1992 a 2005 e, em Niterói, de 1995 a 2006.
Em todos eles, o pico do número de partos ocorreu em maio, ou seja, as pessoas engravidaram em agosto do ano anterior. Quando aos abortamentos, no Brasil e no Rio de Janeiro, o pico ocorreu em novembro e, em Niterói, em setembro.

Segundo os pesquisadores, a não comprovação estatística dessa relação pode estar fortalecendo a crença de que Carnaval é sinônimo de promiscuidade sexual geral e ignorando o trabalho de produção que está por trás de cada detalhe dessa festa grandiosa.

No entanto, diz Mauro Romero, chefe do Setor de DST da UFF, se essas campanhas estão no lugar certo e na hora certa, precisaria, igualmente, ser documentada a diminuição de casos, no período imediatamente após o Carnaval. E isto não ocorre.

O estudo conclui ainda que essas campanhas, para darem bons resultados, devem ser contínuas durante o ano. Do contrário, podem ter como conseqüência, a suposição de que a prevenção é importante nessa época apenas, deixando, assim, a população mais vulnerável às DST em geral, já que as campanhas não se repetem em outras épocas do ano.

 




Regina Schneiderman

Mauro Romero Leal Passos e Wilma Arze

Wilma Arze grava entrevista
na apresentação do estudo à imprensa